Crítica: Mad Max Estrada da Fúria

Mad Max: Estrada da Fúria (Mad Max: Fury Road - 2015) 120 min. Após ser capturado por Immortan Joe, um guerreiro das estradas chamado Max (Tom Hardy) se vê no meio de uma guerra mortal, iniciada pela Imperatriz Furiosa (Charlize Theron) na tentativa se salvar um grupo de garotas. Também tentando fugir, Max aceita ajudar Furiosa em sua luta contra Joe e se vê dividido entre mais uma vez seguir sozinho seu caminho ou ficar com o grupo.

Em 1979, o médico George Miller, enquanto trabalhava no setor de emergência de um hospital na Austrália e rodava seus primeiros curtas, conseguiu fazer seu primeiro longa independente. Nesta época, diziam que o petróleo iria acabar em 20 a 25 anos. Assim, George Miller criou um futuro pós-apocalíptico em que os recursos vitais como água e gasolina seriam cada vez mais escassos, se tornando motivo para luta pela sobrevivência. Nesta mesma época, um aspirante a ator de 23 anos chamado Mel Gibson quase não consegue o papel por ter feito o teste de elenco um dia após uma briga de bar, que deixou seu rosto inchado e sua mandíbula quebrada. Como duas semanas depois a vaga não foi preenchida, Gibos fez um novo teste e conseguiu o papel do protagonista Max Rockatansky, um policial que perde sua família para a guerra das ruas e resolve fazer justiça. O filme Mad Max foi sucesso absoluto na Austrália, chamando a atenção sobretudo para o trabalho do diretor, que conseguiu criar um ambiente de pré-caos no deserto australiano, com cenas de tiros, lutas e explosões muito bem feitas e reais com baixo orçamento.

Em 1981 é lançada a sequência com o mesmo ator e o mesmo diretor, com um orçamento maior e financiado por um grande estúdio, voltado para o público americano (que desconhecia o primeiro filme). The Road Warrior, aqui no Brasil chamado Mad Max 2: a caçada continua, foi extremamente bem sucedido ao estabelecer o caos total, aumentando ainda mais as sequências de ação e se, tornando, até então, o melhor filme da franquia. Em 1983, mais uma sequência chamada Mad Max: além da cúpula do trovão, que não conseguiu manter o altíssimo nível dos filmes anteriores mas fechou a trilogia de uma maneira digna. 

Tudo isso pra dizer que George Miller poderia ter ficado tranquilo dirigindo longas de animação como Happy Feeet, já que ele tinha ensinado ao mundo como fazer filmes de ação. Como em 30 anos parece que não aprenderam direito como se faz (oi, Michael Bay!), MIller resolveu fazer outro favor à humanidade, e aos 70 anos deixar claro COMO FAZER UM FILME DE AÇÃO. Sério, este novo Mad Max: Estrada da Fúria deveria ser um capítulo em livros didáticos sobre filmes. O filme tem todos os ingredientes corretos e necessários para fazer um longa absurdamente competente no quesito adrenalina. 

Entre os tópicos de aula, mestre Miller avisa: (I) use a computação gráfica e efeitos especiais para ajudar a contar a história do filme, e não para ofuscar ou substituir uma falta de roteiro. (II) use dublês reais. Personagens digitais não têm o mesmo impacto na tela. Se algo puder ser explodido, exploda de verdade! Mas deixe que as pessoas saibam o que está sendo explodido e consigam ver causa e efeito da explosão. (III) Se puder ir direto ao ponto, vá. Explicações são boas apenas quando ajudam a compreensão da história.  (IV) use sempre bons atores, mesmo que tenham poucas falas. (V) o filme pode ter mulheres lindas e sensualidade, mas não precisa ser nada gratuito ou explícito sem uma razão aparente. (VI) filme de ação podem ter homens e mulheres atuando juntos e quebrando tudo. Não é necessário que eles possuam um relacionamento amoroso. (VII) filmes de ação podem ter mulheres protagonistas, serem tão duronas quanto os homens e passarem a mesma credibilidade. E ainda podem continuar lindas mesmo completamente sujas e com a cabeça raspada. Basta que tenham talento e competência. (VIII) futuro pós-apocalíptico não é algo bonitinho. É sujo, é cruel, é triste, causa sofrimento, causa loucura, causa guerras, causa conflitos filosóficos e religiosos. Apocalipse -> Destruição -> Esperança. Como adendo, já que o mundo está um caos, justifica-se inserir personagens bizarros e vilões que se aproveitam da situação. Em terra de cego... (IX) Deixar o público respirar entre as sequências? Até pode, mas pouco. Só pra preparar terreno pra próxima sequência. E (X) Se for pra fazer algo insano, bizarro, frenético e alucinante, faça direito. Seja ousado! Por exemplo, experimente inserir no meio de veículos adaptados para máquinas de guerra um "carro-trilha sonora" com um maluco pendurado por cordas na frente do carro tocando uma guitarra que solta fogo e na parte de trás mais malucos tocando "bateria", e use esse som como a trilha sonora de verdade da sequência.



Tom Hardy e Charlize Theron estão fantásticos e dividem o protagonismo do filme com perfeição. As críticas que a Imperatriz Furiosa ofusca Mad Max são a meu ver completamente infundadas, visto que a personagem de Charlize possui papel fundamental na história e não deveria ser jogada para coadjuvante só porque "o filme é do Max". O elenco de apoio é ótimo e todos os personagens estão bem fundamentados na história. O filme também está recheado de referências e homenagens aos filmes anteriores (o vilão Immortan Joe é interpretado por Hugh Keays-Byrne, que fez o vilão Toecutter no 2º filme). E como estamos novamente vivendo dias preocupantes com relação a escassez de água e dúvidas quanto ao petróleo, é um bom momento para voltar a falar do assunto. Todos os elogios são poucos para descrever o filme de ação do ano!

  


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