Especial: Reflexões sobre o Oscar (parte 1)


Hoje quero conversar com vocês sobre a premiação mais badalada do mundo do cinema: o prêmio da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, mais conhecido como Oscar. Com raríssimas exceções, todo ano é a mesma coisa, pelo menos para nós cinéfilos. Acompanhamos ansiosos o anúncio dos indicados para depois reclamarmos das ausências e injustiças cometidas pelos "membros da academia". É, entre aspas mesmo. Depois comento melhor sobre isso.

O Oscar hoje em dia é uma festa conhecida pelo Glamour e pela tradição. A questão é: será que o Oscar reflete o pensamento do povo de um modo geral para premiar os melhores filmes do ano? Minha opinião: Não! Posso citar vários motivos, mas acho que um define bem o porquê: Nem sempre os filmes mais legais do ano são os melhores filmes do ano. Faça um exercício mental agora: quais foram os últimos 5 longas vencedores de melhor filme??? Lembrou de mais de 2 filmes??? As respostas você pode conferir logo abaixo. Não deixam de ser bons filmes, mas destes 5 duvido muito que a maioria deles esteja em suas listas de filmes favoritos ou melhores de todos os tempos. Estou enganado?

2012 - O Artista
2011 - O Discurso do Rei
2010 - Guerra ao Terror
2009 - Quem quer se um milionário?
2008 -  Onde os fracos não tem vez

Uma das poucas vezes em que o gosto do público se fez presente no Oscar foi com O Senhor dos Anéis - o retorno do rei em 2004, mas isso também depois de uma pressão gigantesca que durou 3 anos, já que os dois filmes anteriores não venceram para melhor filme, ficando apenas com categorias técnicas (até por bom senso, visto que não se tinha chegado ao final da história). Você sabia que E.T. não ganhou o Oscar de melhor filme? Perdeu para Ganhdi, com Ben Kingsley. É um excelente filme, mas... você assistiu Ganhdi??? Quando foi a última vez que passou na TV aberta? Nem de longe um Oscar é requisito para estampar um filme na capa de 1001 filmes para assistir antes de morrer ou motivo para lotar salas de cinema e garantir sua exibição na tv aberta alguns anos depois de sua premiação.

Os próprios organizadores da premiação já notaram isso e de alguns anos pra cá fizeram algumas tentativas de mudanças para que o "grande público" voltasse a se interessar pela festa. Entre as maiores mudanças, aumentaram a quantidade de filmes indicados. O que antes era fixo em 5 indicações, agora varia entre 8 e 10 filmes (em 2013 foram 9 indicados). Isso deu um pouco mais de espaço para filmes comerciais, hollywoodianos e até mesmo blockbusters tentarem aparecer na lista de indicados, mesmo sabendo que provavelmente serão coadjuvantes, mas evitando assim mais desgastes com reclamações de fãs.

Falando em fãs, geralmente os filmes que possuem a maior legião de fãs são os de ação, aventura e ficção (fora os blockbusters de dramas ou romances que aparecem de vez em quando como Titanic). Esses filmes são sinônimos de entretenimento. Ou seja, podem até se preocupar em fotografia, roteiro, atuações e demais categorias, mas o objetivo mesmo é divertir sua faixa de público e ganhar muito dinheiro lotando salas de cinema e depois vendendo dvds e produtos licenciados. Não quero dizer que os produtores e diretores desses filmes não gostariam de ganhar um Oscar, mas já é de praxe que as chances não são as melhores. Parece que os membros da Academia tem medo de popularizar a escolha e não serem mais considerados pessoas cultas, que assistem cinema "de arte".

Muitas vezes quando estreia um filme mais técnico ou com uma história mais "certinha", dizemos logo que é um filme feito para o Oscar. Então aquele filme de super-herói que todo mundo gostou e achou legal, provavelmente não possuirá "credenciais" para entrar na festa ou então será ignorado pelos membros conservadores da Academia, que não assistem filmes-pipoca. É triste mas é um fato: por mais que Heath Ledger tenha merecido, se ele não tivesse falecido e provocado toda aquela comoção pública e um coro para seu Oscar póstumo, dificilmente ele venceria pelo seu papel de Coringa no filme Batman - O Cavaleiro das Trevas. Não porque não merecesse, mas porque provavelmente os membros com direito a voto não iam perder seu precioso tempo que poderiam ter com filmes iranianos e austríacos assistindo a mais um filme de super-herói.

Para 2013, era óbvio que Os Vingadores só seria indicado - e por sorte - para categorias técnicas, como no caso foi apenas em efeitos especiais. Realmente eis um típico caso de filme legal, mas feito para entretenimento. Fora a diversão, o que o caracteriza para ser um "filme de Oscar"? Aqui está um problema, que faz com que a gente discorde ou não compreenda a escolha dos indicados. Não existe um "porque". Não existe uma justificativa (não é necessária uma justificativa nos votos dos membros da Academia). Então tudo se resume a opinião puramente pessoal de quem votou, baseada no seu gosto próprio. Pensando no outro lado, em premiações como as da MTV, Peoples Choice ou demais Nerds Awards, tente achar alguma coincidência entre os indicados com os indicados ao Oscar. É diferente, e em parte essa diferença que mantém viva a tradição e o interesse por esta premiação (além da presença dos atores e atrizes no tapete vermelho). Se todo mundo escolhesse os mesmos filmes, pra quê mais de uma premiação???



Mas mesmo sabendo que dificilmente teremos filmes-pipoca indicados, sempre existem as injustiças. Em 2013, achei que o último Batman de Nolan poderia ter entrado em alguma categoria, mas foi completamente ignorado. Para melhor filme, não assisti O Mestre, Moonrise Kingdom e As vantagens de ser invisível, mas pelos elogios estranhei estarem de fora. Na sua redenção, Ben Afleck estava cotado para ator e diretor por Argo, mas foi esquecido nas duas, assim como Tarantino e Kathryn Bigelow, mas pelo menos A Hora mais Escura está concorrendo a melhor filme. Leonardo DiCaprio também não foi lembrado para melhor ator por Django Livre, assim como Anthony Hopkins por HIichcock. Javier Barden deveria ter sido lembrado por 007 - Operação Skyfall. E, o mais absurdo, Intocáveis ficou de fora de melhor filme estrangeiro. Lembrando que O Artista e A invenção de Hugo Cabret fizeram parte do Oscar 2012 (maldito mercado nacional que faz com que todo anos metade dos indicados sejam filmes que só chegarão ao Brasil beeem depois da premiação). Garanto que você ainda vai se lembrar de mais alguns nomes que poderiam facilmente ter entrado na lista de indicados. Mas aí não teríamos o fator polêmica, requisito necessário para que qualquer evento não fique sem-graça.

Ainda temos algumas coisas a comentar sobre o Oscar. Já falamos que a escolha é pessoal, mas será que é só questão de gosto mesmo ou existem interesses financeiros, comerciais e industriais por trás de tais escolhas? Só podemos fazer suposições quanto a isso, mas irei expor minha opinião na parte 2 deste especial.

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